M.B., 28, a professor in Piripiri, Brazil

Desde a segunda metade do mês de Março, eu não saí de casa. Durante esse período, só vivi pela vontade de que todos esses dias terminassem de uma vez e que tudo voltasse ao normal, como se eu já estivesse tão mecânico querendo uma rotina cheia de ações, que fosse algo além de passar os dias em frente da TV, no Instagram ou lendo livros. Isso é engraçado porque sempre reclamamos sobre o tempo que a rotina do dia nos roubava.

Após um mês de reflexão sobre a perda de todo esse tempo longe dos meus melhores amigos, um mês depois, finalmente saí de casa. Isso foi necessário, pois a monotonia com excesso de tempo “livre” também nos adoece. Isso é um fato! Entretanto, não se pode tratar o tempo passado dentro de casa como algo livre e em abundância. Boa parte desses momentos dentro de casa são usados para os afazeres domésticos. Percebe-se que o tempo acaba e o trabalho de casa nunca. Outro fator que surgiu para roubar o tempo “livre” foram a preocupação, a angústia, a ansiedade… Talvez o real significado do atual isolamento social seria exatamente aprendermos a conviver com essas novas problemáticas, ainda que elas nos deixem com um certo ar de impotência diante da grandeza de um microorganismo.

Nesse exato momento, alguns casos foram confirmados na cidade pequena onde moro. Um boa parte da população continua seguindo no isolamento enquanto outros nem tanto. O mais interessante é que aqui não havia nenhum caso há duas semanas, mas esse quadro mudou exatamente porque a exceção das pessoas que não respeitaram o isolamento ficaram mais vulneráveis que as demais. O vírus chega na cidade, começa nos hospitais, depois nos bairros e finalmente nas casas. Se está vivo em razão dos vírus. Não está fácil, mas talvez nunca esteve.

[submitted on 5/6/2020]

Life in Quarantine: Witnessing Global Pandemic is an initiative sponsored by the Poetic Media Lab and the Center for Spatial and Textual Analysis at Stanford University.

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